segunda-feira, 28 de julho de 2014

SIDÓNIO MURALHA 28 de Julho de 1920 - 9 de Dezembro de 1982




A PAZ

Um capacete de guerra tem um ar carrancudo.
Muito mais bela é uma flor.
Uma flor tem tudo
para falar de paz e de amor.


Mas se virarmos o capacete de guerra
ele será um vaso, e é bem capaz
de ter uma flor num pouco de terra
e falar de amor e de paz.


A paz é uma pomba que voa.
É um casal de namorados.
São os pardais de Lisboa
que fazem ninho nos telhados.


E é o riacho de mansinho
que saltita nas pedras morenas
e toda calma do caminho
com árvores altas e serenas.


A paz é o livro que ensina.
É uma vela em alto mar
e é o cabelo da menina
que o vento conseguiu soltar.


E é o trabalho, o pão, a mesa,
a seara de trigo ou de milho,
e perto da lâmpada acesa
a mãe que embala seu filho.


A paz é quando um canhão
muito feio e de poucas falas,
sente bater um coração
e dispara cravos, em vez de balas.


E é o abraço que dás
no dia em que tu partires,
e as gotas de chuva da paz
no balanço do arco-íris.


A paz é a família inteira
na alegria do lar,
bem juntinho a lareira
quando o Inverno chegar.


A paz é a onda redonda
que da praia tem saudades
e muito mais do que a onda
a paz é a vida sem grades.


A paz são aquelas abelhas
que nos dão favos de mel
e todas as papoulas vermelhas
que eu desenho no papel.


Ventoinha, ventarola,
moinho que faz farinha,
meninos que vão à escola,
a paz é tua e é minha.


É luar de lua cheia
tocando as casas e a rua,
são conchas, búzios na areia,
a paz é minha e é tua.


É o povo todo unido,
no mundo, de norte a sul,
e é um balão colorido
subindo no céu azul.


A paz é o oposto da guerra,
é o sol, são as madrugadas,
e todas as crianças da terra
de mãos dadas, de mãos dadas,
de mãos dadas.


 In Todas as Crianças da Terra

 

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