quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PAPINIANO CARLOS (9 novembro 1918 - 5 dezembro 2012)




Morreu Papiniano Carlos, o autor de A Menina Gotinha de Água



O escritor Papiniano Carlos, um dos últimos representantes do neo-realismo português, morreu hoje, no Porto, informou, em comunicado, a Direcção da Organização Regional do Norte do Partido Comunista Português.

O poeta, autor de Sonhar a Terra Livre e Insubmissa, que somava mais de 60 anos de militância comunista, contava 94 anos.
Papiniano Manuel Carlos Vasconcelos Rodrigues nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique, a 9 de Novembro de 1918, fixando-se no Porto, aos 10 anos, onde estudou.
Publicou o primeiro livro de poesia em 1942, Esboço, quatro anos antes deTerra com Sede, a sua estreia na ficção, e de Estrada Nova, com capa de Júlio Pomar, obra que seria apreendida pela PIDE, a polícia política da ditadura.
A adesão do escritor ao PCP remonta ao final da década de 1940, no pós-guerra, actuando na clandestinidade com o nome "Garcia", numa alusão ao poeta andaluz Federico Garcia Lorca.
Na mesma altura, depois de ter frequentado a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, dedicou-se ao ensino, que teve de abandonar, por se ter recusado a subscrever a “declaração anticomunista”, imposta pelo regime aos funcionários.
Deu explicações e foi delegado de propaganda médica. O escritor português foi preso três vezes pela PIDE.
Com Egito Gonçalves, Luís Veiga Leitão, António Rebordão Navarro e Daniel Filipe, dirigiu Notícias de Bloqueio, série de “fascículos de poesia”, publicados no Porto entre 1957 e 1961, designação da revista retirada do título de um poema de Egito Gonçalves.
Colaborou nas revistas Seara Nova Vértice e integrou os corpos dirigentes do Círculo de Cultura Teatral do Teatro Experimental do Porto.
A Menina Gotinha de Água, para a infância, que viria a marcar o ressurgimento do género, a par das obras de Matilde Rosa Araújo, foi editada na década de 1960 e constitui um dos seus maiores êxitos editoriais.
Entre outros livros, Papiniano Carlos escreveu Mãe Terra (1948), As Florestas e os VentosA Rosa Nocturna (1961), A Ave sobre a Cidade(1973), O Rio na Treva (1975).
Na literatura infantil assinou ainda O Grande Lagarto da Pedra Azul A Viagem de Alexandra.
Em 1998, publicou A Memória com Passaporte: Um tal Perafita na ‘Casa del Campo’ - Relato de um prisioneiro na PIDE do Porto em 1937.
Papiniano Carlos está representado na Antologia da Novíssima Poesia PortuguesaNueva Poesia Portuguesa e em La Poésie Ibérique de Combat, entre outras recolhas.
Luís Cília e Fernando Lopes-Graça compuseram canções sobre poemas do escritor.
O corpo de Papiniano Carlos encontra-se em câmara-ardente no Cemitério de Pedrouços (Maia), onde será enterrado quinta-feira, às 15h.



Deixou-nos ontem ...

As meninas gotinhas de água não pararam de o chorar. É um poeta com alma de gaivota que partiu para uma última grande viagem. (Ana Margarida Ramos)

“Quantas vezes já viajei 

à roda do mundo? Cinco? 

 Sete?  

Sim, foram sete! 

Fascinante vida 

Fascinante aventura! 

Agora estou velha

e doente. 


No topo deste guindaste 

na Ribeira 

contemplo 

quem sabe pela última 

vez 

a Ponte de D. Luís 

e o Mosteiro da Serra 

do Pilar. 


Será este o meu último 

sono? O sono da morte?” 


Depois 

quando acordou 

ei-la voando 

veloz sobre a Meia Laranja 

a Cantareira e a Foz. 

Ia em busca 

do Grande-Mar-Oceano 

para enfim descansar"

(Papiniano Carlos) 

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