segunda-feira, 15 de outubro de 2012

AGUSTINA BESSA-LUÍS (15 outubro 1922)

Nasceu a 15 de Outubro, há 90 anos:

"Sou perigosa porque conheço profundamente a natureza 


humana".
Agustina Bessa-Luís, em entrevista ao "Público" (28 de junho de 2004).





Escritora portuguesa, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu a 15 de outubrode 1922, em Vila Meã, Amarante. O Douro, onde viveu a sua infância e aonde, durante aadolescência, volta durante as férias escolares, marcará indelevelmente o seu imaginárioromanesco. Começou a escrever muito cedo, ainda na adolescência, mas publicou a suaprimeira obra de ficção, a novela Mundo Fechado, apenas em 1948. Nessa altura já estavacasada e a viver em Coimbra. A partir de 1950 fixou residência no Porto, onde publica oseu primeiro romance, os Super-Homens.
Embora sempre ligada à produção literária, exerceu o cargo de Diretora do jornal O Primeirode janeiro e depois de Diretora do Teatro Nacional D. Maria II. Pertenceu à Academia deCiências de Lisboa, Classe das Letras, tornou-se membro da Alta Autoridade para aComunicação Social, da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres deParis e da Academia Brasileira de Letras.
As suas obras revelam uma profunda reflexão sobre a condição humana. É o caso doromance A Sibila (1954), que obteve um êxito considerável, tendo sido objeto desucessivas edições e vários prémios, como o Prémio Delfim Guimarães (1953) e o PrémioEça de Queirós (1954), que a consagra como nome cimeiro da novelística contemporânea.
Tendo merecido desde as suas primícias o reconhecimento de autores e críticos como JoséRégio, Óscar Lopes, Eugénio de Andrade, Vitorino Nemésio ou Jorge de Sena, a sua obraviria a ser distinguida com os mais importantes prémios literários nacionais: Prémio Nacionalde Novelística, em 1967; Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em1966 e em 1977, Prémio PEN Clube e D. Dinis, em 1980, Grande Prémio do Romance e daNovela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1984 e Prémio Cidade do Porto. Osvários romances publicados por Agustina entre os anos cinquenta e oitenta, onde,predominantemente, a terra duriense, espaço mítico e cosmogónico, serve de palco para odesnovelar de "gestos e histórias de criaturas que a romancista colhe sempre em estadode autodestruição" e onde só "as criaturas apoiadas no obscuro e no indisputável detradições ou carácter, gémeas da presença opaca da Terra, conservam o dom de resistirao lento esfarelamento da sua realidade" (LOURENÇO, Eduardo, op. cit., pp. 170-171), eao longo dos quais se afina a acuidade com que se compraz "em destruir as mil máscarasque permitem existir", num "furor de julgar e surpreender até o avesso das intenções" (id.ibi., pp. 166-167), dificulta qualquer tentativa de divisão da sua vastíssima obraromanesca em "fases" ou "momentos".
Entre os caracteres definidores que têm vindo a ser atribuídos à torrencial obra romanescade Agustina Bessa-Luís, o de neorromantismo talvez seja o mais recorrente, epíteto, aliás,inaugurado por Eduardo Lourenço, ao considerar que "pela poderosa vaga de fundo queagita ao integrar-se de corpo e alma a um mais geral movimento da imaginação a braçoscom riquezas e terrores que são, em parte, os da vida, pela espécie de viagem no mundointerior de mundos mais visivelmente iluminados por uma luz crepuscular que pelos"amanhãs que cantam", pela busca ou contemplação de realidades extáticas no coraçãodo que muda ou de guardiães do que é sempre igual, estas novas terras romanescasentreabertas pela passagem de Sibila bem podem receber o nome de neorromânticas."(LOURENÇO, Eduardo, op. cit., p. 162). Abrindo uma grande linhagem na novelística dasegunda metade do século XX, para Silvina Rodrigues Lopes, "A especificidade do romancede Agustina Bessa-Luís pertence à afirmação decisiva da impureza do romance, que é oromance como crise permanente, desencadeada pela manifestação de uma avalanchaincontrolada de acontecimentos e reflexões que o indivíduo não domina mas recebe, dasmúltiplas realizações da linguagem, literárias e orais", ao mesmo tempo que, "na relaçãocom uma essência da épica, que é a memória, não admira que o ritmo desta escritora sejaum ritmo pessoal, determinável pela memória própria e por uma relação com a memória dosoutros, através de uma atenção ao saber, hábitos, ritos ou lendas da tradição, e de umaatenção ao memorizável, cuja condição é, no entanto, o esquecimento, a possibilidade derepetir em interpretações inéditas." (LOPES, Silvina Rodrigues - Agustina Bessa-Luís - AsHipóteses do Romance, Porto, Asa, s/l, 1992, p. 21). 
Prosseguindo a rota desconcertante encetada no início dos anos 50, ao longo de uma obracom já mais de cinco dezenas de títulos, e que se multiplica, de forma multímoda, entre aficção, o teatro, a crónica, os guiões, a literatura infantil, a bibliografia ficcional deAgustina integra ainda uma série de ensaios romanescos de inspiração histórico-biográfica,como Santo António, Florbela Espanca, Fanny Owen (resultado de um trabalho depesquisa, fundado em montagens sobre textos de Camilo), Sebastião José, Longos DiasTêm Cem Anos - Presença de Vieira da Silva, Adivinhas de Pedro e Inês, Um Bicho daTerra, A Monja de Lisboa, Martha Telles ou As Meninas, tendo este último sido escritojuntamente com Paula Rego.
Publicou ainda, entre muitos outros títulos, O Manto (1966), Canção diante de Uma PortaFechada (1966), As Fúrias (1977), O Mosteiro (1981), que ganhou o prémio D. Dinis daCasa de Mateus, e Os Meninos de Ouro (1983), que recebeu o Prémio da AssociaçãoPortuguesa de Escritores. O conjunto da sua obra mereceu o Prémio Nacional deNovelística, em 1967, e o Prémio União Latina, em 1997. Vários dos seus romances (entreeles Fanny Owen, de 1979) foram adaptados ao cinema por Manoel de Oliveira. Em maio de2002, recebeu pela segunda vez o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores relativoao ano de 2001, atribuído à obra Joia de Família (2001). Esta sua obra também foiadaptada ao cinema por Manoel de Oliveira, dando origem ao filme O Princípio daIncerteza. Na sequência da triologia literária iniciada com esta obra, a autora, em 2002,editou um novo romance, desta vez com o título A Alma dos Ricos.
Agustina Bessa-Luís foi distinguida com os prémios Vergílio Ferreira 2004, atribuído pelaUniversidade de Évora, pela sua carreira como ficcionista, e o Prémio Camões 2004. Nessemesmo ano, 2004, editou mais uma obra, com o título Antes do Degelo.
A 22 de março de 2005 foi distinguida, juntamente com o poeta Eugénio de Andrade, como doutoramento "Honoris Causa", atribuído pela Universidade do Porto durante a cerimóniado 94.º aniversário da sua fundação.
In Infopédia

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